Tentei de longe ver se ainda respirava, o pobre bichinho deitado enrolado...
talvez os meus olhos estivessem a pregar-me partidas, porque ia jurar que sim, que ainda respirava... aproximei-me para verificar que não, não respirava de todo... jazia ali, morto.
Afastei-me devagar, olhando para trás de quando em vez abrindo os braços numa tentativa de expressar pena e impotência.
Abri a porta do carro e sentei-me mergulhada num mar de pensamentos taboo centrados na linha ténue que separa a tão garantida acção e o cessar dessa mesma acção, a morte.
Ligo o carro, ligo o rádio, e para ajudar à minha meditação mórbida, está convenientemente a passar música contemporânea na Antena 2, música que eu mais comumente classificaria como de terror.
Diri muito devagar até parar num semáforo. A tensão solitária dentro do carro, por esta altura, já estava num nível quase insopurtável tanto que se tornou em sinistramente agradável.
O facto de estar aquela música como "soundtrack" daquela viagem de carro fez com que tudo parecesse incrivelmente assustador e inofensivo ao mesmo tempo.
Parei o carro depois, e liguei a um amigo que é muito "into" este tipo de música para lhe perguntar se reconhecia, ele não me atendeu, então esperei ali, no escuro, que a música acabasse na esperança de ouvir pelo menos o nome do compositor, e eis que fui recompensada com a voz radiofónica do locutor:
-"Unsuk Chin a compositora coreana compôs El Aliento de la Sombra em 1992"
-oh yes, baby!